quarta-feira, agosto 27, 2003

Olha, agora eu vou sair. Agora sim, porque amanheceu e o sol está claro raiando, tinindo, olha só os passarinhos e a sinfonia infernal, essa gente fétida já acorda com seus bafos de excremento, as boqueteiras vão ensinar sem antes terem jogado os dejetos do urinol para fora da janela, vão atender gente atrás de balcões, os comerciantes gordos imprestáveis também descem para a cidade, os advogados pulhas, as madames desequilibradas descem com os animaizinhos de estimação com os quais praticam bestialismo sórdido, e eu vou dar a partida. Essa desgraça de automóvel raquítico não tem limpador de pára-brisas, está chuviscando, que devo fazer, vou cuspir em tudo e todos, porque é muita injustiça ter um pára-brisas único com defeito de fabricação, essas rachaduras causadas pelos meus socos no vidro, essas porcarias não vêm mais blindadas como antigamente. Olha, vão saindo da minha frente, porque minhas vistas doem por conta da famigerada conta telefônica que chegou ontem de noite, sai da minha frente, não sei identificar sinalizadores de trânsito, sai velha idiota, quer quebrar as duas pernas? E as criancinhas? Atropelo? Hoje é dia de reunião de pais e mestres, meus filhos ainda estão na encubadora, senhora diretora, não dá tempo eu chegar, assim, veja você, tenho dois calos nos dedos de tanto tentar arrancar os globos oculares dos meninos para fazer pulseiras, colares e toda sorte de penduricalhos, mas ainda não obtive êxito. Depois mando um, em consideração pelo tempo em que você tentou engordar os meninos, senhora.

| Minha garganta arruinada me faz morrer de rir. |

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