quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Sempre estive a observar-te à espreita. Além disso, meu tempo sempre foi gasto na beira de uma estrada quente e insípida, onde os carros pareciam excitados pelo asfalto quente, os furgões alucinados em madrugadas vazias pareciam gritar adeus e, em desespero absoluto, fugir. Eu esperava nunca ter de estar naquele lugar, mas quando me veio a liberdade, de repente, senti-me em ressaca, atordoado, atado e fechado hermeticamente. Mal posso me recordar dos teus passos à noite, sua maneira agitada de escovar os dentes, seus cuidados com os produtos de limpeza, você cheira a naftalina. Há uma estante no porão que só reflete sua solidão, rutilam seus passos soturnos por aquele lugar, de falsas misérias e estranhos odores. Na verdade, tu vives em madrugada única e pessimista, entoando um velho fado, ou quele rock oitentista, devorando tabaco e tragando estas imperfeições que há algum tempo representaram aprendizado, luta, cansaço e reflexão, mas hoje já não tem graça nenhuma.

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