terça-feira, março 09, 2004


Era de pensar nos carros, nas travessias desta vida, seus contornos, formas, as vias por onde andava, quase nem percebia quando um cruzamento lhe retornava ao inicio de tudo, as lembranças em ciclos. Eram instantes de silêncio e apego a algum reflexo, um foco e, ato contínuo, surgia um motivo aparentemente banal para o isolamento. Agora é a saudade nas suas temerárias e abruptas maneiras de expressão, enquanto me vejo absurdamente perdido naquelas ruas desertas, plena madrugada, ou sozinho as 02 a. m. com um caderno no colo empapuçado de lagrimas, tão distantes, mas as mesmas reminiscências de sempre, os lugares, transeuntes calados ignorando o desespero explodindo no banco ao lado e suas promessas, onde estavam as próprias promessas, ali mesmo esquecidas naquele banco de uma praça, dia chuvoso de março, era tarde e nunca houve esperança, muito embora demonstrasse um certo engrandecimento de si, era simplesmente a insistente duvida de sua fraqueza que, aos poucos, foi-se dissipando, acumulando crostas de rancor e insípido desdém pela própria história, aquela impossibilidade de juntar-se e apanhar o caldo da existência plena, se e que verdadeiramente ocorre algo do tipo para qualquer um ou se apenas vê-se um engano generalizado. Mas o que ocorria era seu coração palpitar em plena madrugada verde-musgo arrancando-lhe as têmporas, o deserto urbano afligindo-lhe lágrimas de abandono, que ele engolia a seco. Foram estacionamentos, centros comerciais, cinemas baratos, pubs secundários, escolas fechadas, escadas nos terminais, a linha das 23h, supermercados vazios, postos de gasolina semi-desativados, rotas esquecidas, parques de diversões em dias úteis, apreensiva vontade de esvaecer nos movimentos eletrônicos dos sinais, era isso tudo que compartilhava da sua solidão.

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