Insanas afinidades com a noite me despertavam às duas da manhã para amenizar umas feridas pudendas que despontavam na alma. A madrugada era um colete salva-vidas que me socorria do sufoco, daquela mixórdia clara de dejetos e insuficiências, daquelas mediocridades flutuantes, mas era então que eu tinha alguma esperança de pegar o trem para algo melhor, refúgio de mim mesmo esclarecedor, diáfano oásis perpétuo no meu quarto, este estabelecido na miragem. Eu, navegador de portos não encontrados, me perguntava para onde mirar, onde refugiar o estado de ânimo, desejo incontrolável de segregação e ao mesmo tempo reencontro. Porque, no fundo, deseja-se incansavelmente a partilha, pelo menos neste estágio de parca existência. Desejaria que a sensação de observar os estúpidos de camarote perdurasse consideravelmente.