Então deixa eu manifestar minha insatisfação com um dente que empacou, não me permite pronunciar palavras completas, mesmo que minha dicção nunca tenha sido muito significante para a compreensão do meu pensamento. É verdade raramente me faço entender, mas não preciso deste monte de esmalte sei lá que espécie de mármore na boca. Ah, eu salivo muito, principalmente quando sou obrigado a comer bolos de mandioca, quando não gosto, mas é que a fome bate às 03h e eu sou um escravo resignado que não me permito uma saída do emprego, prefiro comprar os tais bolos de mandioca, ai, eles fazem a gente mastigar, é verdade, mas não sei, parece que falta alguma coisa: o gosto propriamente. Acabei de me lembrar que não é mandioca, é tapioca. Eu confundo essas comidas de índio. O nome mais estranho é inhame, mamãe sempre me oferece nas manhãs em que eu pareço em casa, mas eu temo este nome, temo que me cause pesadelos que me inflija um calor aborígene a manhã inteira e que me faça engordar como um porco do mato. Eu agradeço, mamãe, mas eu prefiro sucrilhos, parece isopor, mas é um pouco mais civilizado porque se acha no supermercado da esquina, nem precisa levar sacola para trazê-lo e, é bom que se frise, não é necessário retirar fiapos antes de ingeri-lo, basta misturar leite, ora bolas, mas que não seja o leite aguado integral, porque me lembra a merenda oferecida pelo MEC nas escolas públicas por que passei, com suas merendeiras leoas cantando nas cozinhas-forno. Aqueles prédios rústicos não precisam se alojar na minha memória e leite em grãos é sempre uma referência. Toca o sino, tia, quero ir embora.
Por que nasci tão inapto para a vida?
Por que nasci tão inapto para a vida?