Que há para comemorar? As desavenças pequenas e intrometidas, os espaços anestesiados, o choro, o limbo? Que há para comemorar? A pele trêmula do cansaço, a cabeça pendente, o assombro, os risos em volta? Que há para comemorar senão dor, ressentimento, uma semi-existência, insignificância? Nâo, comemorar não seria a palavra correta, mas o que há para embrutecer? Porque o silêncio deve traçar um pacto de embrutecimento com o âmago, o quilate preferido da aurora, essa áurea mítica que, naquelas eres púberes, sangrava morbidez. A indiferença deve reluzir, a falta e a ausência deverão reinar, sem que clamem por nada, apenas sejam únicas e perenes, sem as quais tudo esvanecerá, esse silêncio que deverá cultivar os manjares da vingança e do ódio, porque este permanecerão nas entrelinhas e aplainarão desespero e angústia, estes farão dos vermes banho-maria para, num ultimato próximo, lançar a cartada mortal. Perdurarão feito pilha para a existência rota esquecida, o universos de minúcias hostis, desqualificações, injúrias e toda sorte de engodo, inclusive quando não se esclareciam determinados rumos e os olhos pendiam, tais quais a cabeça. Como quando os sermões tiniam eternamente. Hoje o que retumba são os remorsos alimentando desprezo, silentes, e, em breve, anunciarão a partida.