terça-feira, fevereiro 08, 2005

O sol esquenta as falácias cotidianas, enquanto o espectro dos desejos se alimenta de tédio. A palavra seca e muda encontra-se ausente, desamparada, inscrita na parede em versos ininteligíveis. O resto é o instinto, a vontade burlesca de vomitar as vísceras de ódio, os cortes profundos na alma, os recalques intensos, as liberdades tolas a que se permite num estágio profundo de letargia pré-ordenada. Degladiando os pequenos universos internos, instaurei a resistência, mas, pouco a pouco, os sonhos, estes meticulosos traidores, ameaçam a estabilidade, ousam corromper a inteireza do processo, evitando o deslize, a coordenação do corpo, a manifestação da vontade, razão pela qual me abstenho, a princípio, de qualquer contagem ou medição de qualidade, mormente porque é mardi gras, a gordurosa terça-feira que inspira a realeza, a mentirada, os nós envoltos em sofreguidão, a multidão correndo nua, o sangue, lágrimas, gotas de latejamento dos desejos, outra vez cálidos, instantes, pequenos redemoinhos de nervos que jamais atravessarão as cinzas da quarta-feira. Por sorte.

guided by Cat Power - The Sleepwalker Chan Marshall foi a porta-bandeira do meu carnaval de chaves falsas.

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