Vontade de sair lapidando formas caducas na copa das árvores, com tesouras cegas, porque faca amolada é obra de civilização sórdida. Daí viriam os duendes sonoros, as fadas atrizes, bonecos defeituosos desfilando tortos e angustiados em dia cívico, balões de cristal estilhaçando sobre cabeças de generais e o povo atravessando portas, caminhando sobre a superfície dos mares, no tète-a-tete com o destino, rindo das suas armadilhas e calçando-lhe botas novas, passando a perna no desconhecido, com a intenção de contar orgulhosamente aos seus. Contornaria o povo de ressaca em plena quarta feira, 15 p.m., resmungando a falta do que fazer nos hemisférios, a inexistência de problemas crônicos e instabilidades econômicas, as moças ousadinhas engolindo sapos, os soldadinhos mortos na frente do palácio e suas cabeças servindo de móbiles para enfeitar circos inteiros, onde crianças trapezistas domariam os palhaços, os elefantes seriam promovidos a atiradores de facas, às mulheres barbudas lhe restariam o cargo de moça sensual que cospe fogo, os malabares tempestuosos agitando a multidão, ovacionando com o silêncio, que assiste intacta às três da manhã o espetáculo na tragédia do tempo, enquanto a terra rui, os sapatos são os primeiros a soltarem-se, cair quilômetros de profundidade abissal, e a multidão, então, engolfada pelo furor uterino da mãe gaia, ingerindo a matéria fosca para cuspir uma nova realidade.