terça-feira, outubro 28, 2003


[Roendo Unhas] Agora é só esperar começar a chuva. Ou quem sabe recorrer ao tempo de luas distantes. Mas é que no exato instante, me trespassa o tédio.

sábado, outubro 25, 2003

Interstício
Não deveria pairar dúvida quanto ao rumo deste silêncio. A umidade semi-repleta de respostas. O tempo paralisado no ar. Meus instintos se debruçam diante das possibilidades. Devo mesmo continuar acreditando em serpentes sibilando soltas e que perambular pateticamente faria sentido? Ou mesmo se o mundo exige que você vague, por que cogitar que esta original e secular sina deveria atravessar condicionada a algum objetivo? Por que não refletir se há (des)razão em parar com tudo, observar de longe a extremidade fixa das estrelas? É o que me parte agora, este fluxo de sentimento dominando, que ainda não impede que tudo venha a ruir, pedaços soltos de papel da memória queimam, mas insistem em não deteriorar completamente, carbono flutuante, derivando soltos das minhas conclusões nebulosas. Aquelas murmúrios do passado-presente, pretensões arbitrários de calada da noite, determinismo bruto, quero-os todos soterrados. Que surja a regra integradora dos pequenos sistemas pessoais, até então emaranhados. É o que suplico. Vejo na na frente de um precipício contíguo à completude, percebo que algo pode sedimentar, e é o que desejo, o que quero permitir que aconteça, mesmo se for preciso esforço, e já me satisfaço aos poucos, suponho que seja pleno, incontestável, radiante para dentro. E não envio isto a ninguém, diga-se de passagem.

domingo, outubro 19, 2003



Já nos violaram. Mas resta o sopro inquisitivo que não morre. O que marca, e não seca. Deixem pensar que simplesmente boiamos nos dejetos da existência. Será mais forte o impacto, quando sobrevier a torrente de nossos clamores.
Meu cego coração avança desejoso de uma cama em pedestal para adormecer deslumbrado. Seria o último capricho.

sábado, outubro 18, 2003

"A grosso modo, a vida me pariu
com a capacidade de variar
nos hesitantes passos."



Apareço, de manso, livre pela varanda, e nem parece fingimento, à procura de um poço eterno de compaixão e paciência que me comporte.
De onde brote perene fonte de desejos, inexperiências, tremores de debutantes, o acaso desnudo, enfim. Que eu nunca tenha de ser aquele outro, negligente das pequenas minas que brotam, secam e brotam de novo. Dos maços de rosas adictas, sobraram-me os espinhos. Atirei-os sobre o manancial que jorrava, e mesmo assim, não me retorna o eco do remorso. Calou-se o sobejo. Parte de tudo desistia dos meus anseios, acabava por assentir com temores vertiginosos. Era angústia a curto prazo. Como se a todo tempo interrogado eu fosse. Tenho em mim o que há ficado distante da face do virtuoso, mas nem por isso adormeço ou me aniquilo. Não prometo vitória, pelo contrário já prenuncio desastres, peças raras de covardia e desprezo. Assim, sem dó. Porque errância é marca definitiva, que nem ferro quente grava boi. Deixa eu ir se não eu perco a última sessão dos meus primeiros novos dias.

quinta-feira, outubro 16, 2003

R-E-D-I-V-I-V-O

Bocejei vozes distais e vomitei tinta de caneta esferográfica, após precisar o tamanho da sua crueldade, criança grotesca. Feliz dia dos pesadelos meus causados por teus passos.
(...)
E a doçura agora impera, em detrimento dos teus sussurros gástricos. Porque revivo e calma é a paz demente do que respiro.

"Na imitação da vida, ninguém vai me superar." Já te avisei disto antes.

domingo, outubro 12, 2003

Prelúdio
Fogos de artifício ecoam quando imprimes teu ego, mas teu hálito impede qualquer tentativa de glória, advirto. Teu aspecto de melindres forçados, leites de rosas, pura vontade de deixar tudo. Aproveita que o tempo ainda não te mostrou as hienas prontas para gargalhar dos teus movimentos, teus passos, tua pele inteira de jacaré, ridiculamente bem cuidada. Tenho pena dos seus, de teres vindo ao mundo a fórceps, a vida te adapta, mas não é o bastante. Tens este corpo que mais se confunde a uma maca de hospital. Como és desajeitada de matar fazer qualquer ser humano desabonado em sua existência mais plena. De ti tenho dó, mesmo que nada te pertube. E, ainda, guardo uma profunda gratidão, por tu teres me tornado sóbrio para o horizonte. Agora que "ninguém vai me superar".
Nestes termos, devoto respeito inarredável à vossa digníssima pele de jacaré.

sexta-feira, outubro 10, 2003

"Arrenego de quem diz
que o nosso amor se acabou.
Ele agora está mais firme
do que quando começou."


Soberba, ela perambulou diante dos meus olhos, sujos olhos a procura de abrigo no seu peito, ela foge de mim, quando apareço, faz de conta que não existo, ela sempre séria comendo pipoca, ou sei lá a espécie de guloseima que anda naquele saco plástico, seus mistérios são como o que mastiga, intangível para mim. Ela entra no ônibus que eu não vou, ela senta longe de mim, ela busca uma palavra de auxílio para quem menos se oferece a ajuda, enquanto eu padeço sedento precisando lhe direcionar conselhos, recomendações, carta de amor desesperado e inútil porque ela apenas parece frigir os olhos, faz carões para o ar, observa alguém no bebedouro, depois vai embora como quem nunca passou.

Não me diga que sou ousado, por apenas fundir seu rosto com o púbis

quinta-feira, outubro 09, 2003

I can't even wait my tears

Corto seus lábios
Corto seus lenços
Corto suas dores e cansaços
Seus gestos de menor descaso
Seus sacrifícios
Seus abraços
Corto a lente de contato
Da criança em quadrado
Corto seus meses bem lento
Em fatias para a mesa
Corto suas mechas
Suas palavras sem casa
Seus objetos de estima
Corto o aço e a rima
Corto bonecos de plástico
Corto seu mastro na lua
Corto seu rumo na rua
Corto o caminho dos magos
Corto suas vestes, seus laços
Corto seus braços
Para soluçar desesperado
Porque desato a chorar
Diante da mera possibilidade
De deleitar-me com seus temores
Expostos.

domingo, outubro 05, 2003

See, mamma, I was born to bright... Can't you see it's me in the spotlight?



Dangerously happy: Eu quero um membro do PCC do Gugu no dia das crianças. Depois quero acertar Datena com um badoque. Ratatatá.. Coé, neguinho, coé..

sábado, outubro 04, 2003

O deus maldito dos pequenos delitos que me força lembrar o teu esgar cínico
Destroçando o seu rostinho hollywoodiano, alguém assim diria é problemático, afirmando a contra-corrente dos meus desejos, afinal eu não nasci para isso, mas pensem que fui um objeto predestinado a estas cicatrizes sérias, marcas sangrentas, obstáculos arrefecedores da vida mesquinha,o medo aparentemente ensurdecedor, mamãe cuida de mim como um bebê assassino, prefiro que continue a pensar que sou a embrionária lenda canhota, raquítica, destilada, cheirando a naftalina e indo a rolar ladeira abaixo, mandando metade dos seres ao desterro. Quero ser forte o suficiente para que me reconheçam gritando a quilômetros e meus sonhos debravando matas virgens. Eu. Que gostaria de te arrotar nos meus refluxos.
Singular é minha capacidade de enforcar pescoços rentáveis, exterminar negras artificiais, fugir atrás de monstros do Azerbajão que naturalmente aparecem humanos, com seus odores de suíno decadente e dorso podre. Prefiro ir dormir a contrair béri-béri.

Vontade de sair lapidando formas caducas na copa das árvores, com tesouras cegas, porque faca amolada é obra de civilização sórdida. Daí viriam os duendes sonoros, as fadas atrizes, bonecos defeituosos desfilando tortos e angustiados em dia cívico, balões de cristal estilhaçando sobre cabeças de generais e o povo atravessando portas, caminhando sobre a superfície dos mares, no tète-a-tete com o destino, rindo das suas armadilhas e calçando-lhe botas novas, passando a perna no desconhecido, com a intenção de contar orgulhosamente aos seus. Contornaria o povo de ressaca em plena quarta feira, 15 p.m., resmungando a falta do que fazer nos hemisférios, a inexistência de problemas crônicos e instabilidades econômicas, as moças ousadinhas engolindo sapos, os soldadinhos mortos na frente do palácio e suas cabeças servindo de móbiles para enfeitar circos inteiros, onde crianças trapezistas domariam os palhaços, os elefantes seriam promovidos a atiradores de facas, às mulheres barbudas lhe restariam o cargo de moça sensual que cospe fogo, os malabares tempestuosos agitando a multidão, ovacionando com o silêncio, que assiste intacta às três da manhã o espetáculo na tragédia do tempo, enquanto a terra rui, os sapatos são os primeiros a soltarem-se, cair quilômetros de profundidade abissal, e a multidão, então, engolfada pelo furor uterino da mãe gaia, ingerindo a matéria fosca para cuspir uma nova realidade.

quarta-feira, outubro 01, 2003

Eu tenho umas dores constantes e que me aviltam o espírito. Essas dores respondem nos pés e nas orelhas. Fiz check-up, nada constou, eu preciso de remédios, beberagens, açúcares e babaçu para curar ressacas ancestrais, a pastora buscou dois legumes sexagenários para evitar minha sede de soro anestésico, eu preciso de remédios, ampolas, amostras grátis, eu quero uma farmácia aqui dentro deste quarto, porque o mundo é quente e há drogas que fazem a gente se sentir na Sibéria, macio, macio, esperando logo uma revoada de abutres e a rigidez do frio acalentando baixinho, os olhos para fora mórbidos e os dentes tilintam, vamos patinar no gelo. Visão mais lisérgica não há.