sexta-feira, janeiro 30, 2004

E ainda houve um dia em que eu quis me matar.
Ledo engano.
Acho que eu só queria perceber o Sublime.
Agora eu começo a me vingar. Verdadeiramente.





É a largada.

domingo, janeiro 25, 2004


Sun 07:25 a.m. Mamãe tirou um ninho de lêndeas do meu nariz. Ela falou que se continuasse assim, provavelmente nasceriam caranguejeiras catarrentas. Mamãe é tão esperta, while i'm so silly.


|O mundo é um aranhol, não se iludam.| Glauco Mattoso

sábado, janeiro 24, 2004

E eu pisava em ovos, e parecia mágica e as peles brancas balouçando dos lábios, dos braços, das serpentes que cruzavam o céu. Era dia de lua cheia e eu era lúcido ao procurar tanajuras , procurar lívidos sonhos de malvada carne e fósforo, marmelada pura de fazer dar dor de barriga, porque aquele dia era aziago e eu não queria me crucificar para sempre. Só naquela manhã. E eu sei que tudo perdurará por todo o momento da vida do jeito que sempre foi, porque aquilo era só ilusão refletida. Nunca tive chance mesmo. Não lhes contarei de quando vomitei no espelho. Era só a sorte vindo me torturar.
Vez em quando a história precisa se tornar este grand-guignol pra a gente suportar a vida.

terça-feira, janeiro 13, 2004



Este é o meu estado de espírito nesta exata hora da manhã, quando o intestino pia, a língua ruge, o vento topa com minha última parcela de paciência revivida por sabe Deus que vontade remoída. Agora eu vou me vingar.
Abertas as pessoas, o que lhes sobra a não ser merda, podridão, a bosta além da casca? Tem algumas cujo cancro revela toda a porcaria que dentro de si reside, antes mesmo das oito da manhã, são aquelas pessoas congeladas em cargos públicos, alguns motoristas de ônibus, alguns na padaria ou atendentes de hospitais, isso para falar do meu reduzido círculo de convivência. Às vezes viver é uma merda, por causa destas imperfeições, destes pecados que vêm ao mundo para vomitar todo dia na cara dos desprevenidos. Deveríamos usar máscaras anti tudo para nos livrar do bafo dessas coqueluches, destas diabetes crônicas, destas leshmanioses. Eu odeio a gente que caga e trepa todo dia antes de ir trabalhar, eu odeio o mundo, e em compensação amo tudo o que desola a maioria, porque eu tenho bom senso e sei entender alguma sutileza, ah, isso sei, embora não saiba andar direito e tenha péssima dicção. Sou um ser das sutilezas que vocês, experientes, não dominam. Vão dar conselhos à mãe. Sem mais para o momento, vão à merda de lambuja.

domingo, janeiro 11, 2004

Se eu fosse vovó, matava a rapeize e pedia o sursis.
O segredo era reparar nos olhos da criatura que erigia do pântano. Ali residia toda a minha infância, minha saudade, meus sintomas de solidão, minhas palavras ressequidas pelo tempo, meu cansaço, meus temores líquidos, meus distúrbios. Havia minha dor e meu gozo.
Talvez fosse eu envolto em tanta imundície.

Minha língua ardendo em fogo e procurando me remetia a uma média infância ociosa. Eu quis separar o tempo, mas não tenho controle destas vias mentais.

Esta noite: Sonhei fugir para Estocolmo com a família para trabalhar como manequim vivo em lojas do subúrbio da capital sueca. Tudo nos conformes com a globalização. An ocean of strangers and blondie minds. And technology.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

Nnca pensei em me encontrar no Aquidabã. Me pareceu um ar de fotografia ruidosa e quente beirando o entorpecente.
Situa-te no calendário
Janeiro é a lixeira de dezembro. Sempre me pareceu assim, janeiro é o mês das sobras e desperdícios e excessos cometidos no mês passado, parece que se deve carregar o saco dos dejetos, o saco em que os deuses arrotaram, enquanto os pobres mortais aqui em baixo gastavam sua segunda parcela do décimo terceiro paciente e religiosamente. Janeiro eu quero mais é me aventurar saindo de casa, como diria o poeta, porque a regra será o isolamento, este mês caduco, sem pernas, mês de inchaço e calor indigno. Mês dos condicionadores de ar, das micoses, dos paulistas/mineiros/goianos pobres invadindo as praias com suas farofas e seus desejos de bronzeado e amores de estação. Este pessoal, antes de vir causar black-outs nas cidades litorâneas, deveria gritar suas angústias num saco e pocar depois, lá mesmo em seus cerrados ou desertos. Ou ao menos tentar aplicação de peelings/botox, realizar breves lipoaspirações antes vir torrar por estes lados. Mas não, quando falam em ir à praia, só se preocupam com a farofa e os acompanhamentos, tipo salada vinagrete e tal. Mas é que janeiro tem mesmo destas vicissitudes, tem as repartições públicas fechadas, ou quase parando, mais lentas que o habitual. Tem as chuvas torrenciais, castingando as populações por seus pecados do ano inteiro. Por isto, advirto-vos, não saiais sem guarda-chuva, não pelos temporais, mas pelas ventanias de farofa que engorduram a cidade.

sábado, janeiro 03, 2004

Uma população de fungos avança de dentro do ar condicionado e ataca insensivelmente o primeiro sistema imunológico. E assim desponta dois mil e quatro, com um universo costurado de vitamina c, provavelmente por minha irmã que não sabe costurar direito, e depois uma avalanche de coriza arruinaria minha mucosa nasal e nem o protetor de vitamina c costurado por minha irmã impediria esta contaminação, não sei, mas suponho que isso que ela desejaria me ver mesmo, arruinado. Pra ela invadir meu quarto, e me desprover dos objetos pessoais, do som do quarto, de pequenos bibelôs, revistinhas pulpfiction, a gente é irmãoo, mas a gente é como qualquer pessoa, tem esse desejo quase imemorial de se apoderar das coisas do outro. Mais ou menos do jeito em que se degladiaram psicologicamente Zelda e sua irmã, a Rachel. Lembra de Zelda? Se não se lembra, você não esteve nos anos 80. Ou esteve mas não foi advertido... E quanto à gripe, se melancia curasse...


Todo e-mail que envio volta. Tenho dente que a cada dia entorta. Minha conta bancária está morta, sem movimentação, e meu nariz constipado. Beijos para mamãe, papai e Xuxa.

quinta-feira, janeiro 01, 2004

Meu reveillon livre e sem receitas de macumba, fogos-fátuos ou congêneres.
É só para avisar que aqui rolou um omelete de camarão com vinhos de Mendoza, sim, estavam na promoção no supermercado ao lado de uma quitanda ali pertinho do ponto de ônibus, sem falar da faxina geral na casa, que empreendi à meia-noite (sem intenção supersticiosa) ouvindo três vezes seguidas Ive Brussel e dançando até suar muito, muito mesmo, e após me esborrachae no chão de cansaço e desespero, a renovação da rota da terra causando angústia, o tempo, o tempo demonstrando sempre rigidamente vigilante, acho que tive um pouco de medo, mas dormi entorpecido. Acordei com relâmpagos foscos e suaves descendo do céu para formar desenhos de animais siameses. Mais uma vez tive medo, mas raciocinei: é apenas o vento eufórico das festas ao redor do mundo. É só? Não houve paparazzi para registrar este momento. Depois taquei um The Doors, mais uma vez não se trata de sortilégio, e então desenhei uns cones na parede só para testar um conjunto de hidrocores que ganhei em 1991. Do Mickey? Sei lá, coloridinho. E os créditos do final de ano? Vão para as minhas inspirações. Não poderia citá-las, por motivo de foro íntimo.