domingo, abril 25, 2004

Se não me deixo nada é pela vontade de abnegar o que fui, o que tive e a que pertenci, nas circunstâncias e nos termos em que me estabeleci no mundo, não há algo verdadeiramente digno de perpeituidade, que sirva de objeto de testamento ou codicilo.

sábado, abril 24, 2004

Das vertigens de sábado à tarde ao passado distante de uma era seca e venerável, de chuvas abundantes do mês de abril, enchentes para dizer a verdade, e sala de estar e casas desabando e poeira abaixando; é um passo. O universo era a enxurrada que passava na porta. Quando a gente fazia mingaus, chocolates e outras guloseimas de farinha para espantar o frio. Naquelas tardes não se lia, apenas assistíamos à tv. Pequenos que éramos e nada entendíamos; esteiras, lareiras improvisadas. E o sono e o silêncio e a chuva lá fora simplesmente. Era sábado e o mergulho no nada.

E a história do sapo Liu-liu que queria tomar sol no cu? Não tinha, embora Hilda Hilst já fosse velha e eremita naquele tempo. E nunca haverá, porque a moça só deixou a intenção.
Se eu te escarneço, se eu te destempero, se eu arrefeço os êxitos e as suas impulsividades, favor me premiar com uma gota de compreensão.
Porque esta nunca foi minha intenção. É apenas a sombra da minha má educação.

um som Lauryn Hill - I found it hard to say


...e fogos-fáctuos continuam cruzando meus vultos, com estremecimento de braços, pernas, peito, ombros, mas não me deixo vencer...

quarta-feira, abril 21, 2004

Atormentar é petrificar o sentimento alheio no campo escarrado do ódio. Portanto, não atormentes se queres preservar tua incolumidade, mormente utilizando furadeiras de parede em dia de feriado.
Que raiva desses porcos do andar de baixo.

Esse barulho irrita.
Esse barulho esfola.
Esse barulho mata.



terça-feira, abril 20, 2004



Y se yo tengo una naturaleza, la necesito?
Intocável dia de silêncios claros, sem equimoses aparentes, leve concentração de seborréias, muitas gotas de adoçante, Paris é ali pertinho, Vitória mais ou menos, mendigar é para crioulos, eu não sou realista, amanhã tenho torcida, enquanto o salário não vem. Quero mais é descansar, abrir a janela dos póros, enfiar ladeira abaixo a cara admitindo o chão e o chão não é nada menos que admitir rumores de passado, calúnia, mandar que se fodam e tudo bem. Passar na padaria e comprar o pão, não esquecer dos ovos outra vez.

domingo, abril 18, 2004

Confusão nos teus lapsos infinitesimais
Já não buscas o apelo
A maledicência asséptica
A falácia espavorida
Não faltam mostruários da tua miséria
Daquela parte que tu escondias
Tu falavas e miravas, mas obstruía os tremores
As rugas, as inépcias
Altivez degradada
Não lhe restam os fortes
Nem as fortalezas, nem o cerco, a escolta perdeste
Vai embora atropelado
Incerto e atônito
Como vieste

Desde a origem.

sábado, abril 17, 2004

O aterro dos corpos velhos inúteis, a miserabilidade estampada no meu rosto e o caos em volta, não era uma saga meramente entrópica, simplesmente o futuro e o porvir desgarrados como nos livros de Huxley.

terça-feira, abril 13, 2004

Desfalque: talvez fosse a única forma e conteúdo do meu ser. Não me sentia reles, talvez absurdo, mas por algumas horas perpassava as histórias, os todos inimagináveis da consciência, as feridas incontidas, febres catastróficas, rudes perturbações, mas jamais conseguira intricar tais idéias no sentido de reverter minha inapetência, minha tolice hereditária, meu cansaço.
Hoje as coisas são mutantes, feéricas talvez, mas com certo contorno sórdido de crueldade e malícia, aprende-se, então, a correr, soltam-se as rédeas. Destroçam-se as amarras ígneas. Liberta-te e grassa superior sobre as mentalidades pútridas, rumo à revanche libertária.

Share your fears, é a ordem.

quinta-feira, abril 08, 2004

Circunstâncias
Pedaços de caderno
Foram aquelas canetas que diversificaram meus planos
De cor em cor, me atribuiam flashes em indefinição, espaço-tempo
Quimera hoje seria a palavra para constituir aqueles pensamentos
Pequenos ócios cultivados
Tarde de sono, voz aberta, papos estranhos
Teus tênis, teus pelos, sorriso largo
Apenas nossos descaminhos
Todo sábado era orgástico
Quando liberdade confinada
Tomava um ônibus sem direção
Eram nossas palavras e gestos adolescentes que fascinavam
Embora você nunca soubesse
E não voltam mais
Mesmo que invoquemos aquelas canções
Sonhos, danos, gritos, assombros, perplexidades
Não voltam mais
Não voltam mais

um som: Pitty - Equalize

terça-feira, abril 06, 2004

Nos asfaltos, pontos de ônibus, corriqueiras vagas quase despercebidas sopram do mar, fluxo de imagens, telespectadores, dores, fome, sabe lá que tipo de angústia, suspense, paradeiro.


A mim me resta perambular pelas poucas avenidas que me foram dispostas.
Ou silenciar pela alameda, que não seja a mesma de um dia cinzento-claro e estúpido. Senão eu leso a majestade, ah se não leso.

- um som: Coldplay - Hunting high and low

segunda-feira, abril 05, 2004

Passos claudicantes no corredor
Chás e medicinas


- som: Clint Mansell - Summer Overture

sábado, abril 03, 2004

Que há para comemorar? As desavenças pequenas e intrometidas, os espaços anestesiados, o choro, o limbo? Que há para comemorar? A pele trêmula do cansaço, a cabeça pendente, o assombro, os risos em volta? Que há para comemorar senão dor, ressentimento, uma semi-existência, insignificância? Nâo, comemorar não seria a palavra correta, mas o que há para embrutecer? Porque o silêncio deve traçar um pacto de embrutecimento com o âmago, o quilate preferido da aurora, essa áurea mítica que, naquelas eres púberes, sangrava morbidez. A indiferença deve reluzir, a falta e a ausência deverão reinar, sem que clamem por nada, apenas sejam únicas e perenes, sem as quais tudo esvanecerá, esse silêncio que deverá cultivar os manjares da vingança e do ódio, porque este permanecerão nas entrelinhas e aplainarão desespero e angústia, estes farão dos vermes banho-maria para, num ultimato próximo, lançar a cartada mortal. Perdurarão feito pilha para a existência rota esquecida, o universos de minúcias hostis, desqualificações, injúrias e toda sorte de engodo, inclusive quando não se esclareciam determinados rumos e os olhos pendiam, tais quais a cabeça. Como quando os sermões tiniam eternamente. Hoje o que retumba são os remorsos alimentando desprezo, silentes, e, em breve, anunciarão a partida.

sexta-feira, abril 02, 2004

Desejo inconstante
De voltar incontinente às parcas responsabilidades
Retornar ao passado que faísca
E de lá, bem perto
Eriçar o futuro, sem os dedos titubeantes
Sem a alma exasperada
De maneira tal que os gestos restem mudos
E sintonizantes
E espasmódicos
Quase fogo, simples, nada
Sem novas heresias
Sem intenções, inclusive
Para que não haja mal entendido com o Tempo
O natural é esse regresso
Para evitar débeis resignações

quinta-feira, abril 01, 2004

Aqui apenas jaz qualquer coisa. Nada de fazer jus, nem mesmo à reles capacidade de adquirir rotas expectativas de direito.

Nem falar se pode mais.

Sabe você ser marcado por aquele sujeito, a quem alguém sempre pergunta: "você fala?".
Não, otário, entrei aqui pela vaga de deficientes físicos, não reparou? Me falta a língua propriamente para te cuspir na cara uma gosma pútrida que te faria vomitar os intestinos.