domingo, abril 22, 2007

E pairava em vontades
De aeroportos, cidades montanhosas, pequenas vielas e soturnos lazeres
Bistrôs imundos e parques pantanosos
Chuvas insistentes em temperaturas cruéis
E ali no instante último a foto registrava
O seu odor, seu cansaço, seu grito
Sua maneira de dizer a alguém distante
Que vencera, que sofrera também
E que flertara com todas as contradições
Com paixões e nostalgias
E se manteve imune
Absorto na paisagem de um novo lugar
Onde então poderia chamar casa
Banco, praça, estação
A cada dia uma nova espera
E não a mesma sem perspectiva
Uma palavra iria dominar
E novas angústias, por conseguinte.

sexta-feira, abril 13, 2007

E assustado, arrebatava as aves, sabedor de que um entorpecimento artificial passara, sem embargo dos resquícios. Sabia não ser mais o mesmo, embora o contexto o fosse, já repassado, revisto, redigerido e expelido. Fatos observado atrás de persianas, bancadas de rodoviária, escadas de viadutos. Antes entontecia-se diante dos olhos negros d'água, mas a febre que o abrasara havia estancado. Os olhos agora, embora mornos, distanciavam em motivos. Outrora havia a desilução comedida, a desarmargura, o afago instantâneo da eterna insatisfação de ali permanecer. Agora percebia um amontoado de nuvens, dessas estreitas porém turvas, incessantes, arroxeadas quase, que não diminuiam ainda com o soprar de distrações. Incomodou no início a conjunção de nebulosas mas, agraciado, refletia sobre sua efemeridade e a impossibilidade de atingir camadas mais profundas dele mesmo, de se inserir como antes
e perturbar toda a sua organização mental; não, estavam apenas perdidas, como se fosse dispostas às chuvas, mas não quisessem chover, sem gana de chorar. Enfim, refluxos que ainda resistem, mas sequer ganham forma e pressão.