segunda-feira, dezembro 29, 2003


TIPO, TENHAM UM TRAGÁVEL ANO NOVO, CARALHO!
PORQUE FELIZ JÁ ERA!

- Ó mãe, os dente dele tem um código de barra. Compra, mãe. Compra, mãe.


Eu sou um desnível em calçadas de pedras tradicionais.
Traços tortos, claudicando em constantes cortes e versos de mal feitura, dentes podres, carne sangrando entre os dentes continua ali, parada, não há assepsia, não houve aniversário, por isso, talvez houvesse se não fosse tão errante a ponto de destruir o bolo religiosamente preparado por sua pobre mãe. Foi um sonho. A solidão ainda mora agarrada à sua garganta.

quinta-feira, dezembro 25, 2003

Da ausência de caminho
Eu me sinto cada vez mais dentro de um saco, pronto a estourar, com dentes rangendo, coração disparando de tantos sopapos e transtornos, o fogo queimando o estômago e vísceras contíguas, fogos dos episódios trágicos, como bolas estourando o céu, de ignorâncias vis, de espectros ultrajantes, seria eu rei noutra encarnação? Tivera eu humilhado, massacrado, exterminado populações inteiras por puro e exclusivo prazer? Hoje eu sinto essa constatação, preferiria remar noutra existência, tranqüila, pacata e de tempo reduzido, onde não houvesse estações, nem desejos, nem espectativas, nem sonhos, nem consumo, nem alarde, nem conversas, nem padrões, nem ousadias, muito menos esse tipo de injúria que os porcos não cansam de infligir. Peço a Deus a renascença neste tal patamar de certa vida. Esta sim, sem iter.
Evidências do Natal: Peidos constantes inflamando a cidade.

domingo, dezembro 21, 2003

I SALE JINGLE BELLS OF BLOOD
E de novo lá vem a festa cristã te exigindo roupas novas, perus sadios, dentes limpos, sorriso grudado, árvores coloridas patéticas. O espírito deta festa me irrita, me fulmina com seus porcos em volta da mesa, suas gentes gritando abestalhadas é Natal, quando queriam dizer vão tomar no cu, porque essas gentes eu não entendo, sempre nos eufemismos. E corre atrás do Shopping Center com seus carros populares ou não, gastam o décimo terceiro salário exclusivamente com futilidades, roupas e bijouterias tétricas, muil e uma vezes experimentadas, porque shopping nestes dias é feira, é dia de feira no natal, sim as mesmas caras mastigando farofa de galinha com dentes cheios de ossos, tira o osso, joga no lixo, não é galinha, é peru,m que diferença faz?

sábado, dezembro 13, 2003

Eu descia a ladeira, a mesma rotina, os mesmos tropeços, as mesmas caras de desolação, outras até eufóricas, é o fermento cheirando, os mesmos urubus sondando, a pele assustada, o sol entorpecente, os carros, as casas de orvalho podre e a mata resistente, esta incongruente. Eu pego o ônibus, o mesmo cheiro acre, o mesmo motorista suado, o cobrador sonolento, a mulher que ronca, o tempo e o espaço não encontram semelhantes, é o vazio e o pleno e o odor que invade póros, artérias, signos e palavras. São córregos, vãos, valetas, canhões de esgoto e merda, a latrina dos corpos, as fezes de cachorro notívago, a resignação de aurora das prostitutas. É o silêncio que esgota. Os sons enchem o cansaço, a cabeça estoura. São os carros quase fora de circulação, é final de semana, é dia de feira.
É o morro molhado, é a gente descendo, essa gente que parece sair da cama e descer desnorteada. Acho que nunca tiveram como parar. Eu perdido entre a gente. Tenho comigo que nunca estiveram perplexos. Talvez por isso ainda sejam felizes. Para que saí de casa tão cedo mesmo? Não me lembro. A rua me desconcentra.

segunda-feira, dezembro 08, 2003

A fila espera na porta.
Não tem trocados.
A fila espreita. A fila dorme de vez em quando.
Eu quero que a fila desça solta, ladeira abaixo.
Deixe-me em paz a centelha de gente que cresce já às 04:00 da manhã.
A fila é a fossa. E o fosso.
Era dia assim de verão, ela corria desengonçada, vivificando as cores da pele suja, o rosto esbranquiçado
da perda, a dor, dor, uma foca em seu cérebro crescia. Ela queria roubar as coisas que não entendia, para ver se assim, passava
a ser algo inteligente, importante para alguém, se assim previsse estaria feliz, antes mesmo do encontro, do suposto fato de celebração
da sua realeza...

(...) ela não imaginava a dureza das pedras (...)
A rua, o solo, os céus, e tapas que a vida dá, os córregos de ácido,
as pedras pelo caminho impedem ela de passar.
Volta a dormir, boba, não seja silente, nem conivente com estes estilhaços.
Um leve estrondo.
Ela nunca teve rumo mesmo, coitada. Passava pelo meio fio do sentimento. Ou talvez sejamos nós em fim de ano.
Na calada da noite. Há a árvore muda.
Ela não aponta o vento forte do dia. Parece nunca ter estado aí.
E porque é muda, tudo continua do mesmo jeito.
Era dia assim de verão, ela corria desengonçada, vivificando as cores da pele suja, o rosto esbranquiçado
da perda, a dor, dor, uma foca em seu cérebro crescia. Ela queria roubar as coisas que não entendia, para ver se assim, passava
a ser algo inteligente, importante para alguém, se assim previsse estaria feliz, antes mesmo do encontro, do suposto fato de celebração
da sua realeza...

(...) ela não imaginava a dureza das pedras (...)
A rua, o solo, os céus, e tapas que a vida dá, os córregos de ácido,
as pedras pelo caminho impedem ela de passar.
Volta a dormir, boba, não seja silente, nem conivente com estes estilhaços.
Um leve estrondo.
Ela nunca teve rumo mesmo, coitada. Passava pelo meio fio do sentimento. Ou talvez sejamos nós em fim de ano.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

No meu coração, havia um souvenir. Guardado especialmente para ela. Havia um carro, uma jóia rara de madrepérola, um financiamento imobiliário, doces de compota e um belo riso. Havia eu, contudo, e eu não previa. Havia eu na minha arrogância suprema e no meu desejo incontido e natural de morte e destruição agressiva, intensa e desesperadora, ao mesmo tempo unificadora de tudo e alimentadora de da mecânica das coisas.

segunda-feira, dezembro 01, 2003

Ela vinha desesperada, e eu catando os porcos para lhe enfiar em seus rabos os fios de cabelo dela, a pele dela esfarinhando me dava alegrias, porque suas veleidades superavam minha paciência infinita. Eu tinha ódio daqueles lados de inconstância e vulnerabilidade, sua macaca, vai limpar este chão, ninguém é seu empregado aqui não. Esse cabelo esfuziante lhe faz bruxa, romeira, macedônica, misteriosa dalva, dominicana, sabe Deus a intenção original, és mesmo dúbia, ou não, tão medíocre que não comporta qualquer forma de hibridez. Raciocina uma vez na vida, mulher vesga, seu passado é mesmo um melaço bem podre envolto em formigas assassinas, que despontam de buracos da parede, do lixo, do chão, dos vãos, desvãos, via láctea, sei lá, até da lata de leite integral. Tu não comes pão, então, não te enveredes por estas novas paragens, senão o mundo te engole, porque és melada, lúbrica talvez, mas melada e enjoativa, és esquisita? talvez não, lhe falta apelo.
Ode à Matemática
Tinha uma certa desconexão de noves fora nada, nunca entendi mesmo essa prova real. Na verdade, matemática sempre me causou angústia com suas verdades definidas e peremptórias, gostaria de clamar a Deus para me fazer resignado com postulados e premissas sóbrias, que tentam me dominar, me desfalecer, me atacar por cima, alucinando meus neurônios, matemática é como um martelo vivo a estourar os olhos.