sexta-feira, outubro 29, 2004

"there's a name you keep repeating
you got nothing better to do
and you're with someone who'll hear you say it and just nod
her hand on your arm".



Olho para o vasto infinito à tua volta, e teus pedaços que juntos me decepam os fatos outrora atravessados e impedem a revivência daquelas noites, caladas múltiplas, sentidos perdendos na loucura do não dizer, do não mostrar, apenas observar, e se satisfazer, mergulhar, aventurar oceanos de feltro, misturas de visgo do nos corpos, andaime de voz, de pesar, de êxtase talvez, dessa vontade de berrar alto por algo inexistente, pela volta na cruz, pelo afastamento do medo, das histórias que nos contam desde pequenos, destas mentiras e verdades que de cada lado se desfazem, a mentira mesma de quanto nos encontramos, enfim, dessa perdição, paisagem, destes restos e fantasmas, que apesar de toda a excrescência, acho que somente existiram em mim. Porque seu riso invade e me destrói.

- a ouvir Elliott Smith - Alphabet Town

terça-feira, outubro 26, 2004

Diálogo entre duas professorinhas na parada do ônibus:

Nizete: Ai, Dina, estou precisando de uma licença. Licença-prêmio, saúde, licença-pecúnia, licença-risco de morte, serena, para abdução, licença-doença, meio, fim, absurda, fenômeno, licença-para-criar-menino, para colocar novos dentes, para correr rumo ao norte, fazer mais filhos, licença-estresse, licença-medo, licença-modess, licença para cuidar dos porcos, para linchar o cérebro e afastar as sombras, licença-bebedeira, licença-saudade, licença-sedução e paixão, licença-fogo, licença-mestiça, licença, enfim, para dirigir, licença.
Dina: Ahn... sei.


Enquanto eu postulo por uma licença da existência, em busca do "riso deslavado de não ser".

sábado, outubro 23, 2004

Há dias em que a expectativa doura, rumina, qualifica as horas como um leito a atravessar-se lentamente devorando as possibilidades ulteriores, cominando ao medo a pena capital. Essa expectativa se reveste em desejo, cravado em cavidades abdominais, e se não satisfeito, ainda que num pequeno instante contemplativo, purga até que desfaleças, porque arde, seca, erige pêlos no esôfago, entala, faz-se tédio, entrega e retorno de crises débeis, o que só se afugenta com trauma.


- a ouvir Jessé - Porto Solidão

terça-feira, outubro 19, 2004

a palavra é cruel e só atira o instrumento quando dá na telha. em sua onipotência malsã, valora o insensato, o ridículo eo belo. avessa a repetições, inconformada com a cara insípida de quem a observa e, sobretudo, de quem ousa manipulá-la, cospe-lhe fogo, chá de acidez hedionda, falsa rima, mediocridades sintáticas, desdobramentos inúteis, ponto e vírgula, e assim envolve o interlocutor de questionamentos outros como se já nem sei se devo atirar na cara da velha ambígua das logicidades ou mergulhar de vez nas indefinições, ou, ainda, observar o célere passo das formigas, por enquanto.


"seran los dioses ocultos o seras tú?" lo siento jaguar, a veces pajaro de luz final, regalos personales y no más.

domingo, outubro 17, 2004

Porque existem perfurações no abismo, d aquelas que deixam a gente se esconder, para encarnar depois um desespero, e, continuamente, uma impositiva fé, uma inteligência sobre-humana à qual se promete devoção ortodoxa, anteparo fundamental, de modo que seu reflexo seja a partir de então irrenunciável. Pelo menos sobra admiração e se define o afastamento, ainda que traumático, do que se acreditava ser o próprio alicerce.


"Nossos assentimentos, nossas adesões são como que sintomas alarmantes". E.M.Cioran.

sábado, outubro 16, 2004

Da necessária franqueza ou o que tencionam os rabiscos

Eu: fez o q hj?
BLOMBO: fiquei a tarde inteira desenhando no meu caderno
Eu: ah legal, eu tinha essa prática
Eu: mas meus desenhos me irritavam muito
BLOMBO: hahah
Eu: sério, eu ate perguntava minha mae por que ela nunca soube responder
Eu: talvez ela nunca tenha sido sincera o bastante
BLOMBO: aimeudeus
O muro
Ali, onde os porcos são alimentados, untávamos com banha memórias e vasilhames para o café da manhã. O tempo parecia enxertado de algas marinhas, névoas transcendentes, vida obscura de um tempo irreconhecível povoando cada milimétrico gesto. Insólita aurora, diriam. Alguns imaginariam ser ressaca. Mas eram flashes em desatino àquela hora da manhã. Não estaria a culpa rendida? Havia virtudes por perceber? Não bastava o muro que nos circundava naquelas paragens? Dormente prostração, misericórdia clamada. Então, as cinco e vinte, chegava o mendigo que punha o alforje junto ao portão. Ele gritava dores interplanetárias, ao nosso sentir, pois aquelas palavras, embora revelassem sincero infortúnio, não pareciam inteligíveis a qualquer terráqueo. E naquela intensidade monstruosa, ainda assim, sentiríamos um leve estupor.
Enfim, o tédio alvoroçava as glândulas de todos, até que a noite os separava outra vez. E silente sofrimento nos vincularia ao amanhecer, se não fosse o muro.


quinta-feira, outubro 14, 2004

Será que a verdadeira fuga é aquela em detrimento de ordens e determinações semi-eclesiais? Deverá refletir potencial emancipatório? Requer fogo e subversão?

Por que não se evadir de estéreis graças?

Eu cá tenho minhas dúvidas.
E torcicolos de quinta-feira, com finais de tarde tediosos.

Esperando a noite que, por sua vez, desvanecerá rapidamente.


terça-feira, outubro 12, 2004

Um dia vergonhosamente verde. N'outro vertigo vermelho enumerando convicções abismais. Era ontem, enfim, o que eu bem gostaria que fosse reproduzido amanhã.


- a ouvir The Libertines - What a waster

domingo, outubro 10, 2004

Reforçar as margens de controle de modo que a vulnerabilidade natural e ventanias outras não impeçam seu deslizar incólume. Elevar a metodicidade bruta, enervar a leviandade da reclusão. Clamar refreamento do tato para a glória, rã que o toma de assalto, não faíseuq e, assim, uma manifestação nula petrificada no tempo será possível. E somente assim, com a construção diárias das pequenas regras indissolúveis. Até a próxima sessão.


a ouvir Chico Buarque - Iolanda.

sexta-feira, outubro 08, 2004

"O luar albente
Que do bardo a mente
No silêncio exalta
Chora tua falta
Rutilante estrela
De eteral candor"

Catulo da Paixão Cearense
A título de orgulho e lucidez
Consta serena violência noturna
Olhos mortos aguçando temores
Vasta mensagem e codificações
Falso entretenimento
A apatia fala por si só
Pudera a margem alcançar o pranto
E só o engodo reverberaria
A insensatez de existência
O murmúrio de discórdia
A presença do algoz interior
A traidora investida contra os próprios
horizontes

Há sinceras contradições atravessando os dias

segunda-feira, outubro 04, 2004

Torpor era o que delineava aquela hora, não obstante o vazio imenso, incontrolável de jogar-se no vago fundo de si mesmo, perder a distância da existência, realidades, águas e barragens, mares, para que tal luxo, não fora aquela mesma onda que te levou embora, saudade, quanta mentira me envia, implicas, e remuneras, então, os escroques das ruelas, para que fomentem o engodo, o assassínio da ingenuidade que, de plena, torna-se hera, depois bicho, depois sonho, em vão, algodão, putrefatos, míseros laços me dividem em tempos, fincaste a lança que marcou meus símbolos, meus rudes caminhos, que cravou deleite no meu tédio, vendo os carros passando, luzes todas se derramando sobre a madrugada infeliz, restava a ponte ao longe, mas tu ignoras, meus pulsares, langores, brutalidades efêmeras, ínfimas desconcentrações, porque só tu vives, brotas, desmoronas, ressuscitas, combates, desdobras, reviras as minhas amarras, desforras sensibilidades, enuncias um turbilhão de segredos, experimentos, sagrados templos, covas, ruminâncias, infortúnios também, tu estiras uma torrente de desesperos, euforias, desperta-me, porque basta a possibilidade, a breve névoa, a deseducação, para me atirar ao degredo, aos tentáculos, aos mistérios, à gloriosa-ilusória satisfação de imaginar-me breu.