domingo, novembro 28, 2004

Porque das horas não sei bem o nome, a pele, a instância concreta de estar, de ali presenciar o momento absurdo, toda a mágica, porque tudo fenece ao derredor do sujeito e isso ainda lhe garante paz.
Meticulosidades feitas para engendrar caminhos, isso sim talvez seja muita ociosidade.


Meu rim esquerdo insiste em querer sussurrar algo do interdito. Efemeridades, eu penso.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Esqueci que aqui não é lugar de misericórdia, veja só. Acho que foi por conta de um certo analgésico que ingeri junto com as acelgas. Enfim, recuperando a lucidez, vejo que é tempo de bombas com rancor glamurosamente recheadas de ácido corrosivo.

Take care, bitch!


O que é aquilo em matança loira dois, dela arrancar os óio da outra, hein? Hein? Cabra cega?

domingo, novembro 21, 2004

Revirar os sentimentos todos, cadeira balançando dentro de ti quando tu mesmo parece um fado triste a assinalar por entre as ruas, de aldeias, povoados fracos, porque a imensa solidão desses lugares revela o distanciamento cada vez mais rígido, intacto, fatal, porque estas pedras rolam há tempo e é difícil ultrapassá-las, porque existe um manto de falsidade, ausência de misericórdia, palavras de porcos, centelhas de bruxas, designações equivocadas, pura sorte, muitas vezes, e conspirações, aduzem. Nada, deixa de eufemismo e admite a perda, cara de sinistro emaranhada nos colhões daquele que te assombra mais vezes, não faz mais nada, vomita. Porque diante de ti já expulsei vermes.


E nada mais faz parte da casa em que habita a vontade, a não ser a ordem.

domingo, novembro 14, 2004

Percebe
Vasculha
Observa atentamente
Saltam os meus bagaços para fora
Porque não houve tempo para extirpá-los, soterrá-los
Ou houve demasiado tempo
Assimetrias, tantas horas, perdas, noites, aproveitamentos talvez
Alguma experiência
Valei-me
Dá-me a chave
Porque ali eles estão translúcidos
Obscenos quase retos
Restos que persistem
Fecham um ciclo, iniciam a mesma angústia, baremas
Faltas e impedimentos
Roda, servo, sísifo
Percalços, contrapartidas inexistentes
Beiro as calçadas, não quero os rostos mesmos
As vestes, as culpas estampadas, as mentiras
Bafos de estupidez
Calçadas a que me entrego, como num tropeço
Não, devo subsistir sim
Devo ir embora para Recife, quem sabe.

a ouvir Angelo Badalamenti - Haunting And Heartbreaking

quinta-feira, novembro 11, 2004

Pedaço de sentimento com cream cracker, sem recheios mais, foi a ponta do iceberg de meu coração ressentido. Ausência perene, querendo marcas, ambições, angústias próprias das paixões violentas, falsas burocracias do lidar interpessoal, febre mesmo, mas o que ocorre é a torrente de gripe grotesca e tão antisentimental, crueza, limão, vitamina, tudo uma verdadeira ojeriza de ser alguém gripado propriamente e com calafrios outros diferentes daqueles da febre do amor, pára-brisas adulterados, veículos sem buzina denunciando a responsabilidade criminal do dono, eu vacilão vacilando, casca de ferida, coriza, enfim, os últimos dias têm sido um eterno pára-quedas.

Porque, na verdade, coração seca, nunca cicatriza. Devolva os meus bens apreendidos no seu porto de comiseração.

- a ouvir The Killers – Smile like you mean it

domingo, novembro 07, 2004

Faz tempo que não sentia o tempo assim, parado em si mesmo, como se planctons, penugens, sumos de picles o envolvessem, de modo a atenuar o contundente lapso de silêncio que separa dois destinos, um desejante, mas conseqüente e orgulhoso, enquanto o outro permissivo e indiferente.

Porque o que move células são desejos e nada mais. No intuito de despertar pássaros, impõe o sono e a inobservação das horas até que o crucial momento exsurja.

segunda-feira, novembro 01, 2004

"O pijama aberto
A família
Armadilha".


Feriados, as frontes, umas exatamente postas frente às outras, o semelhante e o dessemelhante, o de todo dia nos seus ócios necessários, é o que o feriado causa, e em mim drama, desesperação talvez, tédio muito, incompreensão, porque não há maior poço de imprecisões atentatórias que a própria alma em paradeiro, as transparências todas correndo, e eu averiguando o semelhante e conjecturando possibilidades, intenções, faltas mesmo, obturações infriltradas no íntimo, passagens outras, família, chulé, bitucas no chão, o gás que acabou. Para onde vão os desejos mesmos com essa cotidianidade? Na rotina, não se vêem mais faróis na lua, pinheiros luminosos, vaga-lumes apontando saídas novas, para luas novas. O escape completamente obstruído, evita-se a roupa suja, porque não há com que lavá-las, os pijamas especialmente desaparecem com os quartos trancados, habitaciones, e eu buscando acercar-me de atenuantes, sem o perigo do alheio, que nesse estágio não se cogita, ouço calado as reações, os silvos, os preconceitos que antes de afastar a realidade, a ratificam completamente, porque também eu quis assim. Ainda que a casa esteja aberta a alguém, vê-se seu inviolável deslocamento, a ignorância consciente de suas paredes, a sujeira sutil de seu chão, a poeira, a poeira. Mas ainda assim, em alguma instância, para alguma centelha do ser coletivo da casa, deve ser bom e, portanto, a situação deve ser respeitada.


- a ouvir Chico Buarque - Flor da Pele