domingo, novembro 30, 2003

Sanção no céu há de haver
Senão cadê a graça em
Morrer Eu mato quem
revogar o limbo celeste
Sou cabra da peste
Não vem ratear

sábado, novembro 22, 2003

ADMINISTRA-SE MASSA FALIDA
Sem caução, sem calção.

domingo, novembro 16, 2003

IVO VIU A CHUVA
A CHUVA VIU IVO
IVO INTIMIDOU-SE
A CHUVA PAROU UM INSTANTE
A CHUVA RECLAMA COM IVO
IVO DISPARA A CORRER
A CHUVA SEGUE NO ENCALÇO
A CHUVA E IVO SE ENVOLVEM
A CHUVA AGORA É PARCEIRA
EMBORA IVO CORRA
UMA COISA É CERTA:
NA FUGA
NÃO HÁ SOLIDÃO

E eu que já realmente cheguei a pensar em depurar o destino

quinta-feira, novembro 13, 2003

As ruas despejadas. Meu cérebro enrolado em papel higiênico. Entraves à liberdade de qualquer ser humano, o vento escalda a pele, as nuvens deslizam soltas, a pele respira, os carros, a tosse, o pânico. Imagina uma gripe em meio a isso tudo? Deliberadas crueldades de ordem superior contaminam o ambiente, são mosquitos enlaçando os dedos e narizes inadvertidos, ou mesmo surpresos e despreocupados, para os quais não há espaço neste tempo. Há um trem saindo agora? Será que ainda dá tempo?

domingo, novembro 09, 2003


Dedos encravados nos fios de cabelo, soltos pela seborréia das dores, que investe todos os póros, fim de tarde tem destas nóias irritantes como pentelho loiro. Alguém vende pamonha, cocada, cachorro-quente, ninguém vende gente, alguém atira telhas remotas do terraço do prédio, cuidado, transeunte, você pode se ferrar. A paz do fim de tarde eliminada por estas pequenas substâncias líquidas, porosas, borbulhando secas e oleosas puras, assim é a vaidade dos restos, mesmo assim permanece lí­vida, quem dera pudéssemos exterminar as oriundas pequenas traças de raiva, vadias, elas não permitem se eliminar. Ódio da existência fina de fim de tarde.

sábado, novembro 08, 2003

Noite cercada e sem cor. Atiçando moscas. Dedos dos pés inchados preconizam profundidade de sono, nebulosidade onírica e calor.

E o meu relógio que ainda não retornou do conserto?

quinta-feira, novembro 06, 2003

Enquanto chove lá fora, há dois raios aqui dentro impedindo meu banho, porque tenho medo de chuveiros assassinos em dias tempestuosos. Além disso, exterminaram os cogumelos do estio, oriundos de abiogêneses múltiplas, típicos da infância e de sapos e crianças, bicicletas, sonhos nublados de patins.

domingo, novembro 02, 2003

[Mi Divisa]Refrendaré a traves de mi camiño esta indiferencia y la presencia unica de un silencio inerte, aunque los días estean a estallar.

sábado, novembro 01, 2003

Exercício de futurologia
E estas noites, definitivamente, não deveriam existir, a não ser para que tomássemos banho de piscina enquanto morcegos revoassem e debruçassem sobre a água límpida seus rancores de noite, de silêncio, de breu. Eu queria uma noite como essas para guardar dentro de um lenço, que aparentemente pareceria puro, seco e adstringente, impedindo essas lamúrias e esses sarcasmos outros que querem nos fazer esquecer, querem oprimir, ou nos querem fazer explorar de forma burlesca, com sensacionalismo de última hora, para a rádio, tv, revistas experimentais, panfletos de partido político ou ONG emergente. Tanto medo, tanto pavor rompido, tanta força para resultar nesta metade pessoa, metade bicho, soluço, a tosse me arrancando tudo que seja possível. É a face leste do ego bobo, de cantorias, de esterilidade sóbria, afoito alguém foi e decidiu descobrir o mundo, mas o destino vem a duras penas, desvenda em descalabros, viola esta impunidade quase atávica - estiveram todos enganados. A bruma invade, bruma de inferno, de calor vermelho intenso, quase ebulição, detalhes todos suspendendo os olhos. Eram animais grotescos invandindo todo aquele esforço para dizer e repetir que as velhas ilusões não convencem, não atenuam, a sua função é justamente reatar o sentimento de perda, de desolação, de desmerecimento, porque mesmo a parte da realidade que avilta imprime a saliente realidade, frente a qual nos impuseram, inutilmente, o desprezo. E a fuligem legada é para deixar evidente às gerações futuras que a forma é muda e o significado fosco. Olvidaremos cantigas, histórias de sinais mútuos, a correspondência das almas, virtudes, coragens, eméritas celebrações da superficialidade. E, assim, não sobreviveremos.