domingo, dezembro 31, 2006

Que a brisa que se anuncia seja inspiradora,
pois quero voltar a ser útil nos meus pântanos.

Um "textículo" antigo, fixado num ponto de tempo-espaço equidistante, insolente como outros, súmula de hesitações e baboseiras, hihihi:

"É tarde e cedo talvez. Mas sobretudo é tempo de observar que o desleixo anterior era charme, peculiaridade, mesmice, falácia, obstrução da realidade. Hoje o impacto com o desconhecido parece rude, doentio, o perceber do medo não parece literário. Hoje aparece a prisão do próprio corpo, o corpo latente, o corpo espião, o corpo inconformado, o corpo que impede o suspiro, ou talvez seja questão de alma?"

quinta-feira, dezembro 28, 2006

De aguardar a resposta do tédio aos meus estímulos químicos e farmacológicos, tento meio que inutilmente relatar algo coerente sobre mais este período de acordo com o acordado parece se findar, e mais uma vez, se acumula nas malas, nas vielas, para alguns, em andores, em ostentosos monumentos para outros, mas que enfim parece se esvair ou abrir espaço para outras catástrofes, outras paródias, também sussuros, também gozos, vontades saraivadas nos rostos do tempo virgem, para novas alucinações, para novos estratagemas dos passos, para novas astúcias de sujeitos rescindidos do bem-estar social, para a minha insensibilidade em si que ainda me surpreende, meu pouco veneno e minha extensa frivolidade, pois nem só de cautelas e lamentos se vive, mas também de ganas e presságios, disparos à queima-roupa, silvos. De achados e palavras obscuras, também ódios, confissões, suores súbitos e refreamento de exaltações foi o tempo; igualmente, foi tempo de vertigens, êxtase, abandono de sacrilégios, espera, dor e perda, sustos e, ao mesmo tempo, fechamento do que se previa. Cerravam paredes, cerravam dorsos, os olhos ainda marejados, os sentidos, cerravam meus calos, minhas passagens, minha dedicada paciência cerrou-se também, eu que pretendia um pulo já ao largo, foi forçada a contenção e mesmo consentida, talvez premeditada. Pois, como tais, são os percalços e também raspas do fundo do pote de melaço, porque há dores e deleites, bem se sabe; então fica para próxima um pouco do mais, uma vez que me exaure tudo isto.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Aproveitando os sussuros em francês, segue a tradução desta canção bem bacana, na esperança de que a francofolie se instale definitivamente nestas instâncias a partir de um veredicto que sairá no final do mês de janeiro. Estou fazendo figa.


J'en connais qui tournent en rond
Eu conheço os que caminham sem direção
Ou qui longent les murs en comptant les saisons
Ou os que se abrigam sob muros, contando as estações
J'en ai vus des dépourvus
Eu vi os desprovidos
Des nouveaux départs qui nous mènent nulle part
Vi novas saídas que não nos levam a lugar algum
Des guerriers à la télé
Vi guerreiros na televisão
Des héros dans ma salle à manger
Heróis na sala de jantar
J'en ai lu des histoires vraies
Eu li histórias verídicas
Mais la question que j'me pose
Mas a pergunta que eu me faço
Sans cesse : Où j'pourrais trouver
Sem cessar: Onde eu poderia encontrar
Du courage, du courage, du courage
Coragem, coragem, coragem
Tu vois c'est tellement mieux
Veja, é bem melhor
Quand on est sûr de soi
Quando se é seguro de si
Que l'on porte au bout des doigts
E se leva na ponta dos dedos
De la force et l'espoir
Força e esperança
D'aller chercher plus loin en n'ayant peur de rien
Para ir mais longe, sem medo de nada
De sonner à la porte de l'inconnu sans aucune retenue
Para bater na porta do desconhecido sem se conter
Et parler c'est si léger
E falar bem rápido
Mais la question que j'me pose
Mas a questão que eu me faço
Sans cesse : Où j'pourrais trouver du courage
Sem cessar: Onde eu poderia encontrar coragem
Quand je vais dans la forêt
Quando eu vou à floresta
Que les bras m'en tombent comme le Petit Poucet*
Os braços me caem como os do Pequeno Polegar
Des cailloux j'en ai trouvés
Ao alcance dos pedregulhos que eu encontro
Mais la question que j'me pose
Mas a questão que eu me faço
Sans cesse : Où j'pourrais trouver
Sem cessar: onde poderia encontrar?

Du Courage, pour La Grande Sophie**

* Le petit poucet é uma história infantil escrita por Charles Perrault, em 1697, traduzida em português como "O Pequeno Polegar". Conta-se que um lavrador, em virtude da fome que atacava a Europa medieval, resolve abandonar seus filhos na floresta; contudo, o menor deles, Le Petit Poucet, deixa pedregulhos para marcar o caminho e utiliza os privilégios de sua baixa estatura para burlar os perigos enfrentados e livrar os irmãos das mãos de um terrível ogro.

** La Grande Sophie é uma artista da chamada "Nouvelle scène française". Começou sua carreira nos meios independentes, mas atualmente possui grande popularidade e lança seus discos por gravadoras de peso. Embora a cantora fuja dos rótulos e seja engajada em movimentos de vanguarda musical, pode-se dizer que La Grande Sophie tem forte apelo pop-rock, com letras fáceis de grudar, ou seja, em que pese o ar de intelectual da moça, seu trabalho tem um quê de kidabelha e sandy&júnior, certainement!

Amusez-vous! http://www.youtube.com/watch?v=3mKJQ9g5Nlo

Depois eu retorno com mais francofolie avec un peu plus de courage.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Sur le Pont Neuf j'ai rencontré
(Sobre a Ponte Neuf eu encontrei)
L'ancienne image de moi-même
(Aquela minha antiga imagem)
Qui n'avait d'yeux que pour pleurer
(Que tinha olhos apenas para chorar)
De bouche que pour le blasphème
(E boca para blasfemar)
(...)
Sur le Pont Neuf j'ai rencontré
(Sobre a Ponte Neuf eu encontrei)
Semblance d'avant que je naisse
(Um rosto anterior ao meu nascimento)
Cet enfant toujours effaré
(Esta criança sempre estupefata)
Le fantôme de ma jeunesse
(O fantasma de minha juventude)
(...)
Sur le Pont Neuf j'ai rencontré
(Sobre a Ponte Neuf eu encontrei)
Mon autre au loin ma mascarade
(Meu outro ao longe mascarado)
Et dans le jour décoloré
(E num dia descolorido)
Il m'a dit tout bas Camarade
(Ele me disse em sussurros "Camarada")
(...)
Sur le Pont Neuf j'ai rencontré
(Sobre a ponte Neuf eu encontrei)
Assis à l'usure des pierres
(Sentado sobre o lodo das pedras)
Le refrain que j'ai murmuré
(O refrão que eu murmurei)
Le reve qui fut ma lumière
(O sonho que foi minha luz)
Aveugle aveugle rencontré
(Cego, cego, encontrei)
Passant avec tes regards veufs
(Passando com teus olhares viúvos)
Ô mon passé désemparé
(Meu passado desamparado)
Sur le Pont Neuf
Louis Aragon (poeta e escritor surrealista).
* Tradução livre por mim. A ponte Neuf, em que pese este nome (Nove em português), é a mais antiga ponte que atravessa o Rio Sena em Paris.


Belíssimo poema que eu vi um dia desses no filme L'homme du train, com o cantor Johnny Hallyday, uma interessante história sobre a amizade.
A propósito deste post, e para se ter uma visão mais realista da cidade luz, je vous recommand Paris à Go-go (http://parisagogo.blogspot.com).
À bientôt!

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Piscada indiscreta, salitre nos olhos, pessimismo em cubos, doces envenenados, rubéola, onde enfiei a árvore e os adornos todos instalados no nada, anúncio de cremes para os calos do pé, flagelo. Coerente com a data.

sábado, dezembro 16, 2006

E de lisura, de cuidados, de metamorfoses contidas, vivia ensimesmado, falsificada, estéril e liso sob suas mentiras, pecados, guardados em caixas de pedras também falsas, pedras de falso brilho e numa falsa lápide ali se escrevia seu falso nome, sua linguagem apurada, porém vazia, de recortes e de colagens, de bricolagens também, porque tolo não era, era apenas amargo, sim, amargo por não perceber o que estoura lá fora, por não olhar da janela, por não observar os chamados, os sentidos, feixes, secreções, as pistas, os achados, as olheiras, os semáforos, cego nesta maneira de sentir-se só, cego destes caracteres sedimentados, dos beijos e olhares, dos odores, era cego.
Eu quero pular de uma altura considerável para destronar você. YOU BURN AND BURN TO GET INTO MY SKIN, madrugadas com sóis fantasmas percorrendo os céus de brilho púrpuro. Não posso te cortar. Ainda, mas revogarei teus decretos.

sábado, dezembro 09, 2006

[HONEY BUNNY]
I love you, Pumpkin.
[PUMPKIN]
I love you, Honey Bunny.
[PUMPKIN]
Everybody be cool this is a robbery!
[HONEY BUNNY]
Any of you fuckin' pricks move and I'll execute every motherfucking last one of you.


Hmm, lembro-me de trotes telefônicos passados em homenagem a este diálogo célebre do cinema, após o que Miserlou, óbvio.
Honeybunny rules!

a ouvir Bonde do Rolê - Jabuticaba