sábado, dezembro 25, 2004

Se bonecas russas fazem o carnaval, por que motivo os duendes não realizam o natal?
A veracidade escondida na festa explícita de carne, mexilhões, bebedeiras ulteriores, fanatismo pelo retiro, falcatruas para aderir à promoção, sim, os duendes entendem dessas parafernálias, obturam seus cabelos, o silêncio eles invocam como fator de fomento das compras, sim, a duendagem invadindo o celeiro, as pessoas adentrando o degredo, a falta de coragem dos outros em não compartilhar, porque a única revolta nesta época é não compartilhar, o que, por si só, torna-se máxima representação da solidariedade em si mesma. Ainda não deu pra perceber como os fenômenos aparecem maculados, a mentira, a mentira?

a ouvir Death Cab for Cutie - Pictures in an Exhibition

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Contraditar a razão é a forma de defesa em pequenas e meticulosas horas de fuga da simplicidade, porque não há elementos químicos de quebra do tédio, do rompimento, não houve insinuação, simplesmente a velha e doida contradição de não se perceber que não se queria, que se afastava irracionalmente, mas vai saber se sempre foi assim mesmo, o verão submerso num aquário imundo talvez seja a melhor opção. É por isso que toda esta parafernália mental depende do ponto de vista, se a via láctea conspira, se os fatores convergem, se dois mais dois são quatro é discutível, que dizer das consciências, tolas, tão frágeis. O melhor é nunca levar nada a sério. Será que ainda encontro uma passagem no ônibus para o poeirão?

domingo, dezembro 19, 2004

Se ser rã é predicado da loucura, sei por que Tom Zé se manifesta daquele jeito. Imagina, a carnadura delirante nos seus mistérios, Tom Zé definindo os sentidos do povo brasileiro, porque neguinho vê logo é baiano e logo alça à nata da sociedade cultural, ou seja, a elite por si mesma. Desgarrando os poros, suscitando a sede, derramando a moça, não posso ser tão pessimista e vulnerável.
Então, me distancio, mesmo, como sempre. Ah, vai para a puta que pariu que monossílabo também expressa gente, falta de emoção dá calor, sede (de novo?) sente dor, repetitivo. Ah, instante feliz é o da liberdade, feliidadde, mcult movies e mias nada para fazer sábado e domingo, mesmo com a História lá fora se refazendo. Eu saberia escrever ilícito? Falta encravar a maldade, porque não nasci com sangue para Macbeth, e sempre lendo as coisas tão pessimistas e odiosas, nem sempre somente imperiosas, nunca sei o que dizer, não estudei Wittgenstein, só decorei seu nome. A título de referência.

E isso não é irrealidade, contrafação por assim dizer, é para o passado unipresente.


sábado, dezembro 18, 2004

Confidências ultimadas

Se alguma graça há nesta minha pequena trajetória, é a glória efetiva de me libertar de nostalgias inúteis, vinculações arbitrárias, e sentimentalidades infelizes, pura fantasmagoria. O certo é que uma raiz ainda tímida evoca um brilho transcendente e apático. Isso entendo que seja desprendimento, ao menos isso. Ainda falta o estéril grande tufão.

domingo, dezembro 12, 2004

Buscam-se feridas nos poços da alma, verdadeiras passagens de além mercúrio, ocidentes vazios, faltas de motivação, os cérebros atordoados, porque lá vem ventania, e dá tempo pra tudo? É óbvio que sim, basta a escolha correta, momento exato, a palavra na medida e eureca, deu-se a luz, a folha, a cor, a água, alegria, peste, veracidades, perfeição para alguns, alívio e fardo em diante e a viagem para além, será o tempo preciso? É necessário o medo mesmo cavando o ácido terreno de prantos em meu colo? Falta a mensagem que obtive naqueles dias primeiros, ou seja, que seria tudo belo e maravilhoso. Há vida depois das expectativas?

sexta-feira, dezembro 10, 2004

“O meigo sono, o sono que desata a emaranhada teia dos cuidados, que é o sepulcro da vida cotidiana, banho das lides dolorosas, bálsamos dos corações feridos, a outra forma da grande natureza, o mais possante pábulo do banquete da existência”.
Macbeth, Cena II.

Um adendo, com a máxima vênia: o consolável sono que retira as cefaléias memoráveis, daquelas que ramificam pela coluna vertebral indefinidamente.

Lobotomizem-me, por favor!