Exercício de futurologia
E estas noites, definitivamente, não deveriam existir, a não ser para que tomássemos banho de piscina enquanto morcegos revoassem e debruçassem sobre a água límpida seus rancores de noite, de silêncio, de breu. Eu queria uma noite como essas para guardar dentro de um lenço, que aparentemente pareceria puro, seco e adstringente, impedindo essas lamúrias e esses sarcasmos outros que querem nos fazer esquecer, querem oprimir, ou nos querem fazer explorar de forma burlesca, com sensacionalismo de última hora, para a rádio, tv, revistas experimentais, panfletos de partido político ou ONG emergente. Tanto medo, tanto pavor rompido, tanta força para resultar nesta metade pessoa, metade bicho, soluço, a tosse me arrancando tudo que seja possível. É a face leste do ego bobo, de cantorias, de esterilidade sóbria, afoito alguém foi e decidiu descobrir o mundo, mas o destino vem a duras penas, desvenda em descalabros, viola esta impunidade quase atávica - estiveram todos enganados. A bruma invade, bruma de inferno, de calor vermelho intenso, quase ebulição, detalhes todos suspendendo os olhos. Eram animais grotescos invandindo todo aquele esforço para dizer e repetir que as velhas ilusões não convencem, não atenuam, a sua função é justamente reatar o sentimento de perda, de desolação, de desmerecimento, porque mesmo a parte da realidade que avilta imprime a saliente realidade, frente a qual nos impuseram, inutilmente, o desprezo. E a fuligem legada é para deixar evidente às gerações futuras que a forma é muda e o significado fosco. Olvidaremos cantigas, histórias de sinais mútuos, a correspondência das almas, virtudes, coragens, eméritas celebrações da superficialidade. E, assim, não sobreviveremos.