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Janeiro é a lixeira de dezembro. Sempre me pareceu assim, janeiro é o mês das sobras e desperdícios e excessos cometidos no mês passado, parece que se deve carregar o saco dos dejetos, o saco em que os deuses arrotaram, enquanto os pobres mortais aqui em baixo gastavam sua segunda parcela do décimo terceiro paciente e religiosamente. Janeiro eu quero mais é me aventurar saindo de casa, como diria o poeta, porque a regra será o isolamento, este mês caduco, sem pernas, mês de inchaço e calor indigno. Mês dos condicionadores de ar, das micoses, dos paulistas/mineiros/goianos pobres invadindo as praias com suas farofas e seus desejos de bronzeado e amores de estação. Este pessoal, antes de vir causar black-outs nas cidades litorâneas, deveria gritar suas angústias num saco e pocar depois, lá mesmo em seus cerrados ou desertos. Ou ao menos tentar aplicação de
peelings/botox, realizar breves lipoaspirações antes vir torrar por estes lados. Mas não, quando falam em ir à praia, só se preocupam com a farofa e os acompanhamentos, tipo salada vinagrete e tal. Mas é que janeiro tem mesmo destas vicissitudes, tem as repartições públicas fechadas, ou quase parando, mais lentas que o habitual. Tem as chuvas torrenciais, castingando as populações por seus pecados do ano inteiro. Por isto, advirto-vos, não saiais sem guarda-chuva, não pelos temporais, mas pelas ventanias de farofa que engorduram a cidade.