"O pijama aberto
A família
Armadilha".
Feriados, as frontes, umas exatamente postas frente às outras, o semelhante e o dessemelhante, o de todo dia nos seus ócios necessários, é o que o feriado causa, e em mim drama, desesperação talvez, tédio muito, incompreensão, porque não há maior poço de imprecisões atentatórias que a própria alma em paradeiro, as transparências todas correndo, e eu averiguando o semelhante e conjecturando possibilidades, intenções, faltas mesmo, obturações infriltradas no íntimo, passagens outras, família, chulé, bitucas no chão, o gás que acabou. Para onde vão os desejos mesmos com essa cotidianidade? Na rotina, não se vêem mais faróis na lua, pinheiros luminosos, vaga-lumes apontando saídas novas, para luas novas. O escape completamente obstruído, evita-se a roupa suja, porque não há com que lavá-las, os pijamas especialmente desaparecem com os quartos trancados,
habitaciones, e eu buscando acercar-me de atenuantes, sem o perigo do alheio, que nesse estágio não se cogita, ouço calado as reações, os silvos, os preconceitos que antes de afastar a realidade, a ratificam completamente, porque também eu quis assim. Ainda que a casa esteja aberta a alguém, vê-se seu inviolável deslocamento, a ignorância consciente de suas paredes, a sujeira sutil de seu chão, a poeira, a poeira. Mas ainda assim, em alguma instância, para alguma centelha do ser coletivo da casa, deve ser bom e, portanto, a situação deve ser respeitada.
- a ouvir Chico Buarque - Flor da Pele